O primeiro-ministro, António Costa, disse: “Com grande probabilidade não será daqui a 15 dias que as razões [para declarar estado de emergência] terão desaparecido”, admitiu António Costa, que falava ao país depois de uma reunião do Conselho de Ministros, para debater as medidas de apoio social e económico para a população afetada pela pandemia de covid-19.
Perante a incerteza sobre a evolução da pandemia de covid-19, António Costa sublinhou que “há algo absolutamente certo”, que é a necessidade de nos “preservamos coletivamente até junho”, para depois avaliar os danos “e perspetivar um futuro em conjunto”.
Para isso, “é essencial que as empresas que hoje existem não fechem as portas definitivamente”, acrescentou.
De portas fechadas ou com acesso limitado devido ao CoronaVirus covid-19, os estabelecimentos de restauração do bairro do Calhariz de Benfica, em Lisboa, garantem refeições prontas a levar, ainda que com pouco movimento, destacando-se a procura da população idosa.
“Nesta zona, temos muitas pessoas de idade, que estão sozinhas em casa e que já não cozinham, e procuram os nossos serviços, só que, também, acho que hoje não procuram porque estão com receio de sair à rua”, afirmou Salete Canha, gerente de um dos espaços de restauração na Estrada de Benfica, que a partir de hoje só tem o serviço ‘take-away’ e só permite uma pessoa de cada vez dentro do estabelecimento.
Restringindo toda a oferta ao serviço de “take-away (levar para fora)“, na sequência de uma das medidas do Governo, anunciadas na quinta-feira, no âmbito do estado de emergência devido ao surto de covid-19, a gerente deste estabelecimento disse que houve uma quebra na procura, talvez porque “as pessoas, neste momento, estão preparadas para fazerem as refeições em casa”.
“No dia-a-dia, temos mais ‘take-away’ do que hoje”, avançou Salete Canha, em declarações à Lusa, assegurando que o restaurante está preparado para continuar de portas abertas, ainda que com limitações, a não ser que as autoridades decidam o contrário.
Deixando em casa o marido, que “já está com 81 anos e é diabético”, Júlia Almeida saiu à rua para ir à farmácia e buscar o almoço pronto.
“A manhã é mais pequena, é mais stressante, tive que ir à farmácia, já não dá tempo para fazer almoço, mas o jantar, estou a tarde toda em casa, que já não saio, estamos os dois muito sossegadinhos em casa, já faço o jantar”, contou.
Protegendo-se apenas da chuva e mantendo a distância social, porque “isso é que conta” para evitar possíveis contágios do novo coronavírus, Júlia Almeida pretende continuar a ir comprar refeições prontas.
“Só para os dois, estar a cozinhar não vale a pena, por vezes, e estou habituada a vir aqui buscar a comida. É muito boa, servem muito bem, e é esse trabalho que tenho a menos”, referiu a lisboeta.
Num outro estabelecimento de restauração, no bairro lisboeta do Calhariz de Benfica, Luís Soares, de 84 anos, assume-se como cliente habitual e sem talento para cozinhar, acrescentando que ainda na quinta-feira esteve a almoçar dentro do restaurante, mas hoje fica à porta para levar ?take-away’ e comer em casa.
“Ainda cá vi almoçar ontem [quinta-feira], sugeri exatamente o ‘take-away’, para eles fazerem, porque ao princípio não estavam vocacionados para isso, portanto fui dos primitivos para dizer para fazer”, expôs o freguês, que mora a 200 metros do restaurante, onde foi levantar o almoço que “já tinha encomendado”.
Sobre as medidas do Governo, nomeadamente que idosos com mais de 70 anos só podem sair à rua em “situações excecionais”, Júlia Almeida e Luís Soares concordam e apoiam a decisão de permitir que os restaurantes se mantenham abertos com o serviço de ‘take-away’.
Gerente da casa onde Luís Soares é cliente habitual, estabelecimento com as portas abertas há 60 anos, Virgílio Caseiro observou que “é a primeira vez” que servem os clientes de porta fechada, o que “é muito incómodo”.
“Muito difícil, perdemos imensos clientes, não faturamos, temos despesas a pagar e é muito complicado”, apontou o responsável deste espaço de restauração, que tem fornecido ‘take-away’, serviço que não dispunham, mas que é hoje a única forma de “tentar fazer alguma coisa, nestas condições”.
Até perto das 14:30 de hoje, este restaurante atendeu cerca de 15 pessoas, indicou Virgílio Caseiro, sem saber como será a procura nos próximos dias, mas com a certeza de que o estabelecimento vai continuar “a fazer um prato do dia” e a servir os clientes à porta.
Em relação ao preço, a refeição custa “uma média de 7,20 euros, mais a embalagem 7,50 euros”, revelou o gerente, realçando que “o preço da refeição é o mesmo que seja praticado dentro do estabelecimento” e que os clientes podem levar as próprias embalagens.
No restaurante gerido por Salete Canha, os fornecedores continuam a abastecer normalmente, mas tem-se notado “algum acréscimo nos valores”, o que poderá ter impacto no valor pedido ao consumidor final.
“Ainda não aplicamos essa subida de alguns produtos, mas provavelmente se continuar a subir, vamos ter de alterar os preços”, declarou a responsável, defendendo ainda que deve ser ajustado o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) para ‘take-away’, que é de 23%, enquanto o consumo da refeição no restaurante é taxado em 13%.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, infetou mais de 250 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 10.400 morreram.
Das pessoas infetadas, mais de 89.000 recuperaram da doença.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 182 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.