O primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho conseguiu, nesta sexta-feira, um acordo com seu sócio de coalizão e ministro das Relações exteriores demissionário, Paulo Portas, cujos detalhes serão revelados mais tarde, anunciou o gabinete do chefe de governo.
“O primeiro-ministro apresentou sexta-feira ao presidente da República (Aníbal Cavaco Silva) um acordo político obtido com o chefe do CDS-PP”, o partido conservador dirigido por Portas, informou à AFP o assessor de imprensa de Passos Coelho.
“As direções de ambos os partidos da coalizão se reunirão no sábado à tarde e depois farão uma declaração”, acrescentou sem dar mais detalhes.
Nesta sexta-feira, a agência de classificação de risco de crédito Standard and Poor’s (S&P) revisou para baixo a perspectiva da nota soberana de Portugal de “estável” à “negativa”.
A agência justificou a decisão pela “incerteza política crescente” causada pela renúncia de dois ministros do governo de coalizão.
A crise que atinge Portugal nos últimos dias começou com a renúncia inesperada de Portas na terça-feira, 24 horas depois da renúncia, também de forma surpreendente, do ministro das Finanças, Vitor Gaspar, arquiteto do programa de reformas e austeridade que a troika de credores de Portugal exige em troca de um plano de resgate de 78 bilhões de euros entregues em maio de 2011.
Gaspar foi substituído por sua vice Maria Luis Albuquerque, uma escolha que reflete a vontade do primeiro-ministro de continuar com a austeridade. Portas, por sua vez, deseja uma mudança de política.
Desde o início da crise, o primeiro-ministro mostrou-se confiante e afirmou ser “capaz de superar as dificuldades”, depois que seus sócios europeus pediram responsabilidade.
O presidente Cavaco Silva também tentava transmitir uma aparência de normalidade. Como estava previsto, devia participar de uma conferência sobre a “pós-troica” que deve reunir 30 economistas.
O tema é de grande importância, já que a crise que atinge Portugal ameaça complicar o plano de resgate.
Em um contexto no qual a economia portuguesa deve retroceder 2,3% no fim do ano e o desemprego alcançar o recorde de 18,2%, os credores aceitaram duas vezes aliviar os objetivos orçamentários do governo concedendo como prazo até 2015 para reconduzir o déficit público ao limite de 3% exigido por Bruxelas.
A partir de 15 de julho é esperada a chegada da troika a Portugal para examinar novamente as contas do país e validar uma reforma destinada a diminuir o gasto público em 4,7 bilhões de euros. Portas era o encarregado de apresentar esta reforma. (AFP)