A abstenção, de 68,7%, foi a mais alta em uma eleição europeia em Portugal; Quase 69% dos eleitores não foram votar porque não quiseram. E se querem procurar dois culpados, concentremo-nos nestes: classe política portuguesa e a União Europeia.
Primeiro, os políticos. De acordo com a sondagem publicada este sábado pelo Expresso, apenas 55% dos portugueses sabiam que as eleições do dia seguinte servia para eleger os membros do Parlamento Europeu (PE). É uma percentagem incrivelmente baixa mas que demonstra bem o afastamento colossal que os portugueses sentem em relação ao órgão legislativo europeu.
E por que razão existe esse afastamento?
Em primeiro lugar, os eleitores não sabem o que fazem os seus representantes porque estes simplesmente não lhes prestam contas. Cada vez mais, e com o alargamento de competências do PE, decidem-se questões fundamentais em Bruxelas para a vida dos portugueses mas nenhum dos eurodeputados nacionais consegue comunicar o que quer seja com o seu eleitorado.
Vão viver para Bruxelas e só dão sinais de vida ao fim de cinco anos — para tentarem renovar um novo mandato. Logo, não nos podemos admirar quando só 31% consegue dizer o nome de um eurodeputado português.
Acresce a tudo isto o facto de os eurodeputados portugueses serem muito pouco influentes e da classe política portuguesa ter desde sempre uma relação claramente subserviente com Bruxelas. Tudo pormenores que não ajudam a reforçar a confiança entre eleitores e eleitos.
Agora a União Europeia. Não deixa de ser uma forte e grande ironia que Portugal seja um dos países que historicamente menos vota nas europeias — a abstenção acima dos 60% começou em 1994 — quando é o país em que os fundos estruturais europeus mais pesam no investimento público nacional: são 84,2%.
Mais outro número: já recebemos mais de 100 mil milhões de euros de fundos estruturais desde que entrou para União Europeia e mais de 69% dos portugueses discorda que o país tivesse futuro fora União Europeia, segundo o Eurobarómetro.
Talvez por isso mesmo, os portugueses vejam a União Europeia como algo seguro — e uma fonte permanente de financiamento. O que não deixa de ser uma segunda ironia quando a UE nunca esteve sob um ataque tão forte como agora, com as forças da direita radical a ultrapassarem a fasquia dos 100 deputados (podem chegar aos 115) eleitos este domingo para o PE. Os partidos eurocéticos ganharam no Reino Unido, França, Itália e ficaram bem posicionados noutros países.
E porquê?
Porque a UE continua a carecer de uma forte legitimidade democrática, tanto por os sucessivos avanços do projeto europeu serem feitos nas costas dos eleitorados europeus, como por a elite em Bruxelas apenas admitir um caminho possível contra ventos e máres: o aprofundamento do federalismo europeu.
Quem são os 21 portugueses que se vão sentar no Parlamento Europeu?
PS (32,45%) : Pedro Marques, Maria Manuel Leitão Marques, Pedro Silva Pereira, Margarida Marques, André Bradford, Sara Cerdas, Carlos Zorrinho, Isabel Santos e Manuel Pizarro
PSD (22,90%) : Paulo Rangel, Lídia Pereira, José Manuel Fernandes, Graça Carvalho, Álvaro Amaro e Cláudia Monteiro de Aguiar.
Bloco (10,25%) : Marisa Matias e José Gusmão.
CDU (7,40%) : João Ferreira e Sandra Pereira.
CDS-PP (6%) : Nuno Melo.
PAN (5,50%) : Francisco Guerreiro.
(Fontes: Observador & C.Lusa)