• 5 de Novembro, 2024

Médicos sem Fronteiras pedem acesso seguro a cuidados de saúde

Share This !

Médicos sem Fronteiras (MSF) apelou às partes em conflito na Faixa de Gaza que garantam o acesso seguro de doentes e feridos aos hospitais, frisando que julho tem sido um “mês horrível”.

“Os MSF apelam urgentemente a todas as partes em conflito para que garantam o acesso seguro da população aos cuidados médicos e evitem a evacuação do hospital Nasser [na cidade de Gaza], o que colocaria em risco centenas de pacientes”, lê-se num comunicado da organização humanitária, a que a agência Lusa teve acesso.

“Todos os dias de julho têm sido um choque atrás do outro”, afirmou Javid Abdelmoneim, chefe da equipa médica dos MSF, relatando que, a 24 deste mês, encontrou atrás de uma cortina no hospital Nasser uma menina de oito anos, sozinha e gravemente ferida, que acabaria por sucumbir aos ferimentos.

Para Abdelmoneim, trata-se do “reflexo de um sistema de saúde em colapso”.

“Uma menina de oito anos, morrendo sozinha num carrinho na sala de emergência. Num sistema de saúde a funcionar, ela teria sido salva”, lamentou.

No comunicado, os MSF defendem que o hospital Nasser tem de ser protegido, uma vez que os últimos hospitais principais do centro e do sul de Gaza estão a debater-se “com o mortífero mês de julho”.

Em Khan Younis, no sul de Gaza, os combates estão a aproximar-se cada vez mais do hospital Nasser, colocando-o sob ameaça e pondo em risco o acesso da população a cuidados médicos.

Isto acontece quando as equipas dos MSF nos hospitais Nasser e al-Aqsa responderam a 10 afluxos maciços de pessoas gravemente feridas só em julho, na sequência de bombardeamentos na área.

“Qualquer escalada dos combates perto do hospital obstruiria o acesso dos pacientes e da equipa médica, tornando impossível a prestação de cuidados”, diz Jacob Granger, coordenador do projeto dos MSF em Gaza.

“O sistema de saúde está completamente dizimado e evacuar centenas de pacientes e suprimentos médicos, apressadamente ou não, seria uma tarefa impossível e traria consequências devastadoras para as pessoas da região, que não têm para onde ir”, defendeu Granger, para quem fechar o hospital Nasser “não é uma opção.”

Segundo os MSF, o hospital Nasser está a prestar cuidados a cerca de 550 doentes, incluindo pessoas com queimaduras graves e traumatismos, recém-nascidos e mulheres grávidas.

Segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, os níveis de sangue no banco de sangue do hospital Nasser estão criticamente baixos, depois de cinco vagas sucessivas de pacientes recebidos, com cerca de 180 mortos e 600 feridos.

“Uma em cada dez pessoas que se ofereceram para doar sangue durante uma atividade de recolha apoiada pelos MSF não estava apta a doar devido a anemia ou desnutrição. No hospital de al-Aqsa, o serviço de urgência não tem podido funcionar corretamente, pois está sobrecarregado de doentes”, acrescenta-se no comunicado.

Antes da guerra, lembram os MSF, o hospital de al-Aqsa tinha cerca de 220 camas para doentes, número atualmente ultrapassado para níveis insustentáveis — entre 550 e 600 internados.

“O hospital de al-Aqsa já tem várias centenas de pacientes acima de sua capacidade de camas”, insistiu Alice Worsley, enfermeira gerente de atividades dos MSF, para quem a situação é “desesperada”.

“Mesmo a resposta mais dedicada nem sempre pode salvar vidas sem suprimentos, camas e equipas médica suficientes”, acrescentou Worsley.

Em 22 e 27 de julho, as forças israelitas emitiram duas ordens de evacuação em Khan Younis, o que resultou em mais uma deslocação em massa e reduziu ainda mais o espaço onde as pessoas podem ir.

Segundo o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), de 22 a 25 de julho, cerca de 190.000 palestinianos foram deslocados em Khan Younis e Deir al-Balah.

Desde o início da guerra, estima-se que 1,7 milhões de pessoas tenham sido aconselhadas a deslocar-se para uma área de 48 quilómetros quadrados (km²), o que representa 13% da Faixa de Gaza, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Embora as chamadas zonas humanitárias se tenham revelado inseguras em Gaza, a existência de tais zonas não retira às partes beligerantes a obrigação de proteger os civis – onde quer que se encontrem. Por quase 10 meses, nós vimos que nenhum lugar em Gaza é seguro”, sustentam os MSF.

Faça login no Facebook para comentar

Artigos que podem lhe interessar :

Carros incendiados e vandalizados : saiba se o seguro cobre?

Dezenas de carros foram incendiados e vandalizados, recentemente, na região de Lisboa. Saiba como fu...

Economia: FMI elogia Portugal, mas vê produtividade e investimento como ameaças !

O chefe de missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Portugal elogiou a trajetória económic...

Caixa Geral de Depósitos pagou mais de 4,5 milhões por dia ao Estado em 2024

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) pagou mais de 4,5 milhões de euros por dia ao Estado em 2024, soman...

Funcionários públicos protestam em Lisboa contra o empobrecimento

Os funcionários públicos protestam em Lisboa, com o lema "parar o empobrecimento" para exigir aument...

Ricciardi defende que BES "era sólido" e culpa Banco de Portugal pela resolução

O ex-presidente do Banco Espírito Santo Investimento (BESI), José Maria Ricciardi, considerou no jul...

Lesados do BES usam carro funerário em protesto no arranque do julgamento da queda do Grupo Espírito...

Representantes dos lesados do Banco Espírito Santo estão, esta terça-feira, em protesto junto ao Cam...

PRR : Tribunal de Contas Europeu revela incumprimentos de Portugal

O Tribunal de Contas Europeu (TCE) revela que alguns marcos e metas "não foram cumpridos de forma sa...

Orçamento de Estado 2025 é apresentado. Eis o que se sabe sobre a proposta

O Governo entrega a proposta de Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), que parte já com despesa adi...

Clima : cheias mortais na Europa, incêndios florestais em Portugal. A nova realidade climática, aler...

Os soldados e  equipas de emergência e voluntários lutaram para reforçar as defesas ao redor de Wroc...

As Migrações causadas pela rutura climática global vão ser debatidas em Lisboa

As migrações causadas pela rutura climática global vão ser objeto de um debate, organizado pela asso...

Papa Francisco diz que Vaticano sabia das agressões sexuais do padre Abbé Pierre

O padre católico francês Abbé Pierre foi acusado em 17 novos relatos de violência sexual, segundo um...

Douro : Autarcas defendem taxa turística para ajudar viticultores em crise

Os autarcas da Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM Douro) defenderam, no Parlamento, a criação d...

By Team