As migrações causadas pela rutura climática global vão ser objeto de um debate, organizado pela associação ambientalista ZERO e o Pacto Climático Europeu, no âmbito do Festival TODOS, que decorre em Lisboa.
Em pano de fundo estão estimativas do Banco Mundial e da Organização Internacional das Migrações que apontam para centenas de milhões de refugiados ambientais em todo o mundo até meados do século.
O evento que decorre na Alameda D. Afonso Henriques, a partir das 14h30, conta com intervenções do jornalista Farid Patwary, do Bangladesh, Duarte Costa, embaixador do Pacto Climático Europeu, Cecília Delgado, também embaixadora do Pacto Climático Europeu e investigadora do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova e Rita Prates, da ZERO.
Esta adiantou, no comunicado de divulgação da iniciativa, que o painel do debate, intitulado ‘Fronteiras Invisíveis: Migrações Traçadas pelo Clima’ “visa esclarecer uma consequência muitas vezes escondida das alterações climáticas: os impactos socioeconómicos e os eventos climáticos extremos, que levam comunidades inteiras a migrar”.
Na sua opinião, “é fundamental reduzir as emissões de gases com efeito de estufa para atenuar, ao máximo, o efeito das alterações climáticas e evitar que muitas regiões do globo se tornem inabitáveis”.
Por sua parte, Cecília Delgado avisou que, “se não houver uma estratégia imediata de coerência entre os valores defendidos pela União Europeia e as práticas relativamente aos países pobres que enfrentam alterações climáticas, a fome irá provocar uma migração massiva para países onde a abundância alimentar e a expectativa de um futuro melhor oferece uma segunda oportunidade aos refugiados climáticos”.
A base física destes movimentos humanos foi apontada pela embaixadora do Pacto Climático Europeu, ao apontar que as alterações climáticas se materializam em eventos climáticos extremos, desde secas a inundações, de escassez de água a temperaturas elevadas.
“Neste contexto, agudizam-se as desigualdades, a pobreza extrema e a insegurança alimentar”, prosseguiu, enquanto, “por outro lado, criam-se desequilíbrios nos ecossistemas, que exacerbam a disputa pelos recursos naturais, como a água ou o acesso a terra fértil e irrigada”.
Nestas condições, concluiu, “aumentam os custos dos produtos alimentares, a escassez de produtos frescos e nutritivos e a fome”.
Já Duarte Costa apontou que, “para além do seu próprio esforço na redução de emissões, a União Europeia tem de criar mecanismos para facilitar a sua articulação com as economias destes países, gerando negócios baseados na sustentabilidade e na transição climática que criem riqueza”.
Como insistiu, “a União Europeia deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que essas populações se mantenham, de uma forma integrada e produtiva, nos seus territórios de origem, única forma de estes países se poderem desenvolver e fazer face aos riscos atuais e futuros que resultam dos impactos das alterações climáticas”.
O jornalista Farid Ahmed Patwary vai detalhar os efeitos da rutura climática no país que é considerado o que mais está exposto à subida do nível do mar. Os habitantes da ilha de Bhola, no Bangladesh, que criou meio milhão de migrantes em 1995 devido ao aumento do nível do mar, são habitualmente referidos como a primeira vaga de refugiados climáticos da história da humanidade.
O TODOS é promovido pela Academia de Produtores Culturais e a Câmara Municipal de Lisboa e o Pacto Climático Europeu é uma iniciativa central do Pacto Ecológico Europeu promovido pela União Europeia, sendo coordenado em Portugal pela ZERO. (Ag.Lusa)